22 fevereiro, 2007

"Twee vaders"... ou seja "two fathers".... ou seja "Dois Pais"...

Ao vaguear por outros olhares, cruzei-me com algo que me encantou e que não resisto a tentar-vos neste encantamento...
A espreitadela foi ao O Ano da Orquídea e o encantamento surgiu no post "Twee Vaders"!

Realmente... para quando será imaginável uma situação destas em Portugal?? ... Quanto mais tempo temos que resistir e lutar??

Depois de um ano...

Hoje, dia 22 de Fevereiro, faz um ano que Gisberta foi assassinada por um grupo de rapazes institucionalizados... a transfobia ganhou um novo rosto!! Sugiro uma espreitadela a outros olhares... como o post "1 ano depois - de quantas fobias se morre em Portugal?" de Lilás com Gengibre. Felizmente este rosto não é esquecido por muitas e muitos de nós, e recusamos que seja esquecido por esta sociedade onde a LesBiGayTransFobia está tão presente! "desmantelar la homofobia/queerfobia institucional no es tarea fácil, porque estas insidiosas prácticas están profundamente entretejidas en la lengua y la cultura de la sociedad (...) [No entanto] La lucha continúa. Tal vez la esperanza se alo único que nos mantega vivos, pero aun así, la esperanza ayuda." Carmo Marques, 2006 in Sexualidades Marcadas. Discursos sobre sexualidades que desafiam a novos conceitos de cidadania(s) (tese de mestrado em Ciências da Educação da FPCEUP) cit Morris, 2005: 47.

07 fevereiro, 2007

SIM!!



SIM no dia 11 de Fevereiro à despenalização da interrupção voluntária da gravidez até às 10 semanas, por opção da mulher, em estabelecimentos de saúde devidamente autorizados!!
E não me venham acusar de "assassina", "puta"... de leviana e depravada (seja lá o que isso for)... "Tu queres é andar debaixo deles todos e depois desmanchar!"...
Não me venham com terrorismo emocional e afectivo colocando os nossos principios morais e de vida num paradigma da imoralidade e do crime...
Não me venham como proprietários/as da defesa da vida, do amor, e dos afectos...
Não me venham com tretas, que delas já eu estou farta!!!
O que eu sei é que esta lei, (que espero que sinceramente no dia 11 venha a ser alterada por vontade da maioria dos e das portuguesas, através do seu direito ao voto, um voto responsável!), que condena as mulheres, que as considera criminosas... se mostra uma lei ineficaz num quadro de hipocrisia: o aborto é uma realidade na nossa sociedade e não há como fugir a isso!!! Realidade sofrida por aquelas que a vivem... realidade ignorada por aqueles e aquelas que se assumem defensores/as da vida, do amor e dos afectos, mas que em oito anos nada fizeram para a alterar... realidade incomodativa, porque se tornou visivel... porque nós, os e as criminosas/os a tornámos pública, quando uma mulher (que podia ser eu, tu... a tua mãe, a tua filha, a tua namorada, a tua amiga...) foi sentada no banco dos réus.... segundo os/as proprietárias/os da defesa da vida, do amor e dos afectos... esta realidade só é humilhante porque nós, os e as criminosas a tornámos visivel e pública...
Para os/as proprietárias/os da defesa da vida, do amor e dos afectos... ser nomeada como criminosa, ser levada por agentes policiais, ser interrogada sobre a sua intimidade, ser julgada e obter pena suspensa (sim, porque nenhuma mulher foi presa!!! dizem eles e elas... os senhores/as senhoras defensores/as da vida, do amor e dos afectos)... é uma realidade quotidiana que não infringe qualquer humilhação à mulher!!
Estou farta de tretas!!!
Não admito que eu, e todos/as aqueles/as que defendem o SIM!!, sejamos questionados/as sobre a nossa legitimidade em defender a vida...
Será que não é defender a vida dar oportunidade às mulheres para decidirem para quando a sua maternidade? Uma maternidade desejada, reflectida?!
Não é defender a vida ao exigir que se altere a actual lei que leva às mulheres a recorrem ao aborto clandestino, colocando as suas próprias vidas em risco, e até mesmo levando-as à morte?!
Não é defender a vida ter a consciência que já temos demasiadas crianças em risco, abandonadas pelo sistema e pelas famílias, possivelmente porque resultaram de gravidezes inesperadas, do medo e da pressão da sociedade??!!
Não será uma prova de amor, interromper uma gravidez, numa dada altura da vida, quando se tem consciência que não se reune as condições que se deseja para se conseguir levar uma maternidade responsável e assente no amor a um filho/filha que se deseja?!
E não me venham novamente com tretas!!!
Eu nunca abortei!! Já tive medo de me confrontar com uma gravidez num dos piores momentos... e de não saber o que fazer, pois tinha consciência, que continuar a gravidez iria ser psicológicamente dramático para mim, contudo... as escolhas que tinha eram aquelas que todas as mulheres que pensam em recorrer ao aborto têm: a clandestinidade que impõe custos elevadissímos (risco, dinheiro, saúde, crime...)... ainda bem que tudo não passou de um valente susto!!... Pois se assim não fosse... talvez eu fosse uma das mulheres que já foi a julgamento! No entanto, sinto-me julgada como elas, porque tal como elas sou mulher!
Dia 11 de Fevereiro vou responder SIM!
... como mulher que diz basta a uma lei punitiva para as mulheres, hipocrita e ineficaz, além de cúmplice promotora do aborto clandestino.
... como educadora, porque convivo diariamente com crianças em risco e abandonadas pelo sistema e pelas famílias, consequência de gravidezes inesperadas e irreflectidas que levam a maternidades e paternidades indesejadas e irresponsáveis!! Basta de nos agarrarmos à ideia que "tudo se cria" apesar das dificuldades... deste lema estamos nós cheios/as... basta espreitar pelas nossas associações de acolhimento de crianças em risco!
Como cidadã, digo SIM!! à dignidade da mulher, à sua capacidade de decisão responsável, recusando-me a apontar o dedo, a julgar qualquer mulher que recorra ao aborto!

Porque são uma das minhas paixões...