Estou viva!!!
... com uma crise na coluna... com uns quilitos a mais (demais para meu gosto).... mas vivinha da silva!!!
... e claro que ainda mais furiosa com o estado de saúde deste belo país banhado pelo Atlântico e invadido diariamente pelos/as nossos/as vizinhos/as.....
.... eu volto!!!
24 setembro, 2007
10 maio, 2007
Adormecida, mas não morta!
É isso!... adormecida, mas não morta...
Continuo por aqui... apesar de não aparecer ultimamente!
... a ver se o entusiasmo regressa para a escrita!
Continuo por aqui... apesar de não aparecer ultimamente!
... a ver se o entusiasmo regressa para a escrita!
26 março, 2007
Mais um passo para a democracia, com consciência que muito há que fazer...
Mulher na democracia não é biombo de sala
Há 150 anos, no dia 8 de Março de 1857, teve lugar aquela que terá sido uma das primeiras acções organizada por mulheres operárias.
Centenas de mulheres operárias em fábricas de vestuário e têxteis de Nova Iorque, iniciaram uma marcha de protesto contra as condições de trabalho com que se deparavam. Reivindicavam melhores condições de trabalho: redução da carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam dezasseis horas de trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho. Esta acção grevista teve um desfecho trágico – a morte de cento e trinta mulheres operárias, que foram encurraladas dentro de uma fábrica onde deflagrou um incêndio, que pouco terá tido de acidental.
Somente em 1910, numa conferência mundial decorrida na Dinamarca, a revolucionária Clara Zetkin propõe o dia 8 de Março como o Dia Internacional da Mulher, sendo desde 1975 assumida pelas Nações Unidas.
O dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, homenageia todas as mulheres trabalhadoras e simboliza a luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres.
Uma luta que continua a fazer parte do presente, apesar dos avanços que se foram conquistando para a construção de uma cidadania, também ela escrita no feminino.
Muitos discursos têm vindo a reforçar a ideia que as mulheres “ocuparam o seu lugar na sociedade”, através da sua afirmação como pessoas autónomas e participativas no mundo do trabalho e da política... Contudo, embora as mulheres tenham conseguido, através de grande luta, a ampliação dos seus direitos... essa ideia não revela a verdade!
As mulheres continuam a constituir a maioria da população no limiar da sobrevivência.
Na África e Ásia, as mulheres representam três quartos da população analfabeta. Em média, o salário das mulheres é quase quarenta por cento mais baixo do que aquele que é pago aos homens, por idêntico trabalho. A violência contra as mulheres continua a ser um grave problema que vai contra os direitos humanos. Violência que emerge no seio da família, por aqueles que lhe estão mais próximos, quer fisicamente, quer afectivamente. Violência que se traduz pelo tráfico sexual das mulheres, pela mutilação genital feminina (que segundo estimativas da Amnistia Internacional, acusa para um número de dois milhões de mulheres que são submetidas anualmente a esta violação dos seus direitos), pela prostituição, pelo assédio e violação sexual, pelo infanticídio ou aborto selectivo ( nos paises mais empobrecidos o nascer do sexo feminino pode ser o sinónimo de maus tratos ou de morte)... pela feminização da pobreza, pela feminização do desemprego (que no distrito de Aveiro é bastante significativo), pela dupla jornada (em que uma delas se sustenta em trabalho não pago)...
É este o “espaço ocupado pelas mulheres”, que não desejamos!
O slogan “Pão e Rosas”, gritado por 14 mil mulheres em 1908, em Nova Iorque, continua actual na reivindicação de maior estabilidade económica e melhor qualidade de vida para as mulheres portuguesas.
O dia 11 de Fevereiro, com a vitória do SIM no referendo à despenalização do aborto, significa uma grande vitória pela qual lutamos ao longo dos anos, na luta das mulheres portuguesas pelos seus direitos.
A vitória do Sim permitiu que «as portas que Abril abriu» se abrissem também para as mulheres. Durante 32 anos as portas da democracia mantiveram-se entreabertas para as mulheres. Escancará-las é tarefa de todos aqueles e de todas aquelas que continuam a querer construir Abril.
Uma das consequências directas da vitória do Sim no referendo é o entendimento da maternidade como um direito, como uma escolha, e não como uma fatalidade ou castigo. Concretizar esta ideia passa não só pela aplicação da lei do aborto mas também pela regulamentação da lei da procriação medicamente assistida. Passa pela educação para uma sexualidade sem mitos nem vendas, onde o prazer e a responsabilidade se tornam sinónimos. Mas para que a sexualidade e a maternidade sejam realmente percebidas e vividas como direitos é necessário que os serviços públicos, sejam os educativos, sejam os de saúde, os assumam como tarefas e valores da «democracia de alta intensidade».
Fará sentido comemorar o 8 de Março em Portugal agora que uma das mais importantes e simbólicas batalhas pela cidadania das mulheres foi vencedora? A minha resposta é um sim inequívoco.
Como dizia Zeca Afonso, esse aveirense tão esquecido nesta cidade, «mulher na democracia não é biombo de sala». Mas onde estão e como estão as mulheres do nosso país? Como as trata a democracia? Estarão efectivamente incluídas na cidadania ou são, como diz a canção, «biombo de sala»?
Num país em que as mulheres na Assembleia da República são uma imensa minoria, num distrito em que mais de 60% do desemprego é feminino, numa sociedade em que a violência doméstica está mais generalizada do que aquilo que os números envergonhados mostram, num quotidiano em que as mulheres trabalham fora e dentro de casa, cuidam das crianças e dos mais velhos, sem que este trabalho seja pago ou sequer reconhecido pelo seu valor económico e social, num mercado que desvaloriza e inferioriza as profissões marcadamente femininas, numa publicidade que objectualiza e esteriotipa as mulheres, numa linguagem sexista que derroga e invisibiliza o feminino, numa história que oblitera metade da humanidade, numa ciência que recusa os saberes tradicionais, numa globalização que serve e se serve do patriarcado para melhor explorar, nada fazer, nem sequer o esforço crítico de compreender o mundo que nos rodeia e agir para o transformar, é não só aceitar que esta realidade não contradiz a democracia como é também recusar a cidadania para as mulheres.
Zeca Afonso dizia na mesma canção que «não há bandeira sem luta, nem não há luta sem batalha». Com ele digo eu também: escancarar as portas de Abril, colorir Maio com todas as cores da paleta, são as tarefas da democracia. Ontem como hoje, em Março como noutro mês qualquer. Todas e todos pela luta toda.
artigo publicado no Diário de Aveiro a 9 de Março
Há 150 anos, no dia 8 de Março de 1857, teve lugar aquela que terá sido uma das primeiras acções organizada por mulheres operárias.
Centenas de mulheres operárias em fábricas de vestuário e têxteis de Nova Iorque, iniciaram uma marcha de protesto contra as condições de trabalho com que se deparavam. Reivindicavam melhores condições de trabalho: redução da carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam dezasseis horas de trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho. Esta acção grevista teve um desfecho trágico – a morte de cento e trinta mulheres operárias, que foram encurraladas dentro de uma fábrica onde deflagrou um incêndio, que pouco terá tido de acidental.
Somente em 1910, numa conferência mundial decorrida na Dinamarca, a revolucionária Clara Zetkin propõe o dia 8 de Março como o Dia Internacional da Mulher, sendo desde 1975 assumida pelas Nações Unidas.
O dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, homenageia todas as mulheres trabalhadoras e simboliza a luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres.
Uma luta que continua a fazer parte do presente, apesar dos avanços que se foram conquistando para a construção de uma cidadania, também ela escrita no feminino.
Muitos discursos têm vindo a reforçar a ideia que as mulheres “ocuparam o seu lugar na sociedade”, através da sua afirmação como pessoas autónomas e participativas no mundo do trabalho e da política... Contudo, embora as mulheres tenham conseguido, através de grande luta, a ampliação dos seus direitos... essa ideia não revela a verdade!
As mulheres continuam a constituir a maioria da população no limiar da sobrevivência.
Na África e Ásia, as mulheres representam três quartos da população analfabeta. Em média, o salário das mulheres é quase quarenta por cento mais baixo do que aquele que é pago aos homens, por idêntico trabalho. A violência contra as mulheres continua a ser um grave problema que vai contra os direitos humanos. Violência que emerge no seio da família, por aqueles que lhe estão mais próximos, quer fisicamente, quer afectivamente. Violência que se traduz pelo tráfico sexual das mulheres, pela mutilação genital feminina (que segundo estimativas da Amnistia Internacional, acusa para um número de dois milhões de mulheres que são submetidas anualmente a esta violação dos seus direitos), pela prostituição, pelo assédio e violação sexual, pelo infanticídio ou aborto selectivo ( nos paises mais empobrecidos o nascer do sexo feminino pode ser o sinónimo de maus tratos ou de morte)... pela feminização da pobreza, pela feminização do desemprego (que no distrito de Aveiro é bastante significativo), pela dupla jornada (em que uma delas se sustenta em trabalho não pago)...
É este o “espaço ocupado pelas mulheres”, que não desejamos!
O slogan “Pão e Rosas”, gritado por 14 mil mulheres em 1908, em Nova Iorque, continua actual na reivindicação de maior estabilidade económica e melhor qualidade de vida para as mulheres portuguesas.
O dia 11 de Fevereiro, com a vitória do SIM no referendo à despenalização do aborto, significa uma grande vitória pela qual lutamos ao longo dos anos, na luta das mulheres portuguesas pelos seus direitos.
A vitória do Sim permitiu que «as portas que Abril abriu» se abrissem também para as mulheres. Durante 32 anos as portas da democracia mantiveram-se entreabertas para as mulheres. Escancará-las é tarefa de todos aqueles e de todas aquelas que continuam a querer construir Abril.
Uma das consequências directas da vitória do Sim no referendo é o entendimento da maternidade como um direito, como uma escolha, e não como uma fatalidade ou castigo. Concretizar esta ideia passa não só pela aplicação da lei do aborto mas também pela regulamentação da lei da procriação medicamente assistida. Passa pela educação para uma sexualidade sem mitos nem vendas, onde o prazer e a responsabilidade se tornam sinónimos. Mas para que a sexualidade e a maternidade sejam realmente percebidas e vividas como direitos é necessário que os serviços públicos, sejam os educativos, sejam os de saúde, os assumam como tarefas e valores da «democracia de alta intensidade».
Fará sentido comemorar o 8 de Março em Portugal agora que uma das mais importantes e simbólicas batalhas pela cidadania das mulheres foi vencedora? A minha resposta é um sim inequívoco.
Como dizia Zeca Afonso, esse aveirense tão esquecido nesta cidade, «mulher na democracia não é biombo de sala». Mas onde estão e como estão as mulheres do nosso país? Como as trata a democracia? Estarão efectivamente incluídas na cidadania ou são, como diz a canção, «biombo de sala»?
Num país em que as mulheres na Assembleia da República são uma imensa minoria, num distrito em que mais de 60% do desemprego é feminino, numa sociedade em que a violência doméstica está mais generalizada do que aquilo que os números envergonhados mostram, num quotidiano em que as mulheres trabalham fora e dentro de casa, cuidam das crianças e dos mais velhos, sem que este trabalho seja pago ou sequer reconhecido pelo seu valor económico e social, num mercado que desvaloriza e inferioriza as profissões marcadamente femininas, numa publicidade que objectualiza e esteriotipa as mulheres, numa linguagem sexista que derroga e invisibiliza o feminino, numa história que oblitera metade da humanidade, numa ciência que recusa os saberes tradicionais, numa globalização que serve e se serve do patriarcado para melhor explorar, nada fazer, nem sequer o esforço crítico de compreender o mundo que nos rodeia e agir para o transformar, é não só aceitar que esta realidade não contradiz a democracia como é também recusar a cidadania para as mulheres.
Zeca Afonso dizia na mesma canção que «não há bandeira sem luta, nem não há luta sem batalha». Com ele digo eu também: escancarar as portas de Abril, colorir Maio com todas as cores da paleta, são as tarefas da democracia. Ontem como hoje, em Março como noutro mês qualquer. Todas e todos pela luta toda.
artigo publicado no Diário de Aveiro a 9 de Março
22 fevereiro, 2007
"Twee vaders"... ou seja "two fathers".... ou seja "Dois Pais"...
Ao vaguear por outros olhares, cruzei-me com algo que me encantou e que não resisto a tentar-vos neste encantamento...
A espreitadela foi ao O Ano da Orquídea e o encantamento surgiu no post "Twee Vaders"!
Realmente... para quando será imaginável uma situação destas em Portugal?? ... Quanto mais tempo temos que resistir e lutar??
A espreitadela foi ao O Ano da Orquídea e o encantamento surgiu no post "Twee Vaders"!
Realmente... para quando será imaginável uma situação destas em Portugal?? ... Quanto mais tempo temos que resistir e lutar??
Depois de um ano...
Hoje, dia 22 de Fevereiro, faz um ano que Gisberta foi assassinada por um grupo de rapazes institucionalizados... a transfobia ganhou um novo rosto!!
Sugiro uma espreitadela a outros olhares... como o post "1 ano depois - de quantas fobias se morre em Portugal?" de Lilás com Gengibre.
Felizmente este rosto não é esquecido por muitas e muitos de nós, e recusamos que seja esquecido por esta sociedade onde a LesBiGayTransFobia está tão presente!
"desmantelar la homofobia/queerfobia institucional no es tarea fácil, porque estas insidiosas prácticas están profundamente entretejidas en la lengua y la cultura de la sociedad (...) [No entanto] La lucha continúa. Tal vez la esperanza se alo único que nos mantega vivos, pero aun así, la esperanza ayuda."
Carmo Marques, 2006 in Sexualidades Marcadas. Discursos sobre sexualidades que desafiam a novos conceitos de cidadania(s) (tese de mestrado em Ciências da Educação da FPCEUP) cit Morris, 2005: 47.
12 fevereiro, 2007
07 fevereiro, 2007
SIM!!
SIM no dia 11 de Fevereiro à despenalização da interrupção voluntária da gravidez até às 10 semanas, por opção da mulher, em estabelecimentos de saúde devidamente autorizados!!
E não me venham acusar de "assassina", "puta"... de leviana e depravada (seja lá o que isso for)... "Tu queres é andar debaixo deles todos e depois desmanchar!"...
Não me venham com terrorismo emocional e afectivo colocando os nossos principios morais e de vida num paradigma da imoralidade e do crime...
Não me venham como proprietários/as da defesa da vida, do amor, e dos afectos...
Não me venham com tretas, que delas já eu estou farta!!!
O que eu sei é que esta lei, (que espero que sinceramente no dia 11 venha a ser alterada por vontade da maioria dos e das portuguesas, através do seu direito ao voto, um voto responsável!), que condena as mulheres, que as considera criminosas... se mostra uma lei ineficaz num quadro de hipocrisia: o aborto é uma realidade na nossa sociedade e não há como fugir a isso!!! Realidade sofrida por aquelas que a vivem... realidade ignorada por aqueles e aquelas que se assumem defensores/as da vida, do amor e dos afectos, mas que em oito anos nada fizeram para a alterar... realidade incomodativa, porque se tornou visivel... porque nós, os e as criminosas/os a tornámos pública, quando uma mulher (que podia ser eu, tu... a tua mãe, a tua filha, a tua namorada, a tua amiga...) foi sentada no banco dos réus.... segundo os/as proprietárias/os da defesa da vida, do amor e dos afectos... esta realidade só é humilhante porque nós, os e as criminosas a tornámos visivel e pública...
Para os/as proprietárias/os da defesa da vida, do amor e dos afectos... ser nomeada como criminosa, ser levada por agentes policiais, ser interrogada sobre a sua intimidade, ser julgada e obter pena suspensa (sim, porque nenhuma mulher foi presa!!! dizem eles e elas... os senhores/as senhoras defensores/as da vida, do amor e dos afectos)... é uma realidade quotidiana que não infringe qualquer humilhação à mulher!!
Estou farta de tretas!!!
Não admito que eu, e todos/as aqueles/as que defendem o SIM!!, sejamos questionados/as sobre a nossa legitimidade em defender a vida...
Será que não é defender a vida dar oportunidade às mulheres para decidirem para quando a sua maternidade? Uma maternidade desejada, reflectida?!
Não é defender a vida ao exigir que se altere a actual lei que leva às mulheres a recorrem ao aborto clandestino, colocando as suas próprias vidas em risco, e até mesmo levando-as à morte?!
Não é defender a vida ter a consciência que já temos demasiadas crianças em risco, abandonadas pelo sistema e pelas famílias, possivelmente porque resultaram de gravidezes inesperadas, do medo e da pressão da sociedade??!!
Não será uma prova de amor, interromper uma gravidez, numa dada altura da vida, quando se tem consciência que não se reune as condições que se deseja para se conseguir levar uma maternidade responsável e assente no amor a um filho/filha que se deseja?!
E não me venham novamente com tretas!!!
Eu nunca abortei!! Já tive medo de me confrontar com uma gravidez num dos piores momentos... e de não saber o que fazer, pois tinha consciência, que continuar a gravidez iria ser psicológicamente dramático para mim, contudo... as escolhas que tinha eram aquelas que todas as mulheres que pensam em recorrer ao aborto têm: a clandestinidade que impõe custos elevadissímos (risco, dinheiro, saúde, crime...)... ainda bem que tudo não passou de um valente susto!!... Pois se assim não fosse... talvez eu fosse uma das mulheres que já foi a julgamento! No entanto, sinto-me julgada como elas, porque tal como elas sou mulher!
Dia 11 de Fevereiro vou responder SIM!
... como mulher que diz basta a uma lei punitiva para as mulheres, hipocrita e ineficaz, além de cúmplice promotora do aborto clandestino.
... como educadora, porque convivo diariamente com crianças em risco e abandonadas pelo sistema e pelas famílias, consequência de gravidezes inesperadas e irreflectidas que levam a maternidades e paternidades indesejadas e irresponsáveis!! Basta de nos agarrarmos à ideia que "tudo se cria" apesar das dificuldades... deste lema estamos nós cheios/as... basta espreitar pelas nossas associações de acolhimento de crianças em risco!
Como cidadã, digo SIM!! à dignidade da mulher, à sua capacidade de decisão responsável, recusando-me a apontar o dedo, a julgar qualquer mulher que recorra ao aborto!
17 janeiro, 2007
Basta de hipocrisias!
A menos de um mês do referendo sobre a despenalização do aborto, cabe-nos a todas e todos reflectir responsavelmente sobre o futuro que desejamos para a nossa sociedade...
Se desejamos uma sociedade que continue assente numa cidadania exclusora e punitiva para com as mulheres... ou, pelo contrário, o dia 11 de Fevereiro irá ser um marco na construção de uma cidadania mais inclusiva que garante o direito à mulher de optar, com base numa decisão responsável e livre?!
A actual legislação, que criminaliza o aborto, condena milhares de mulheres a um caminho de clandestinidade associado ao risco de saúde e das suas próprias vidas, onde a dignidade está ausente.
É uma lei ineficaz na resposta ao aborto clandestino, realizado na maioria das vezes em situações que colocam a vida das mulheres em risco, quer a nível da saúde física, como psicológica... levando mesmo a casos de morte.
É uma lei hipócrita que leva as mulheres que recorrem ao aborto clandestino à barra do tribunal, numa pena que pode ir até aos três anos. Aliás, em Aveiro decorre um julgamento onde o Ministério Público pede a pena máxima, 3 anos de prisão, para as mulheres.
É uma lei que criminaliza e estigmatiza as mulheres, devassando a sua vida privada em praça pública, humilhando-as e marcando-as socialmente, como criminosas.
É uma lei que perpetua as desigualdades sociais, pois são as mulheres com menos poder económico que se sujeitam ao aborto clandestino em situações precárias, realizado muitas das vezes por “entendidos/as”, tendo como desfecho as urgências dos hospitais, ou em casos extremos a morgue. Aquelas que possuem outros recursos económicos recorrem a clinicas privadas, nacionais ou na vizinha Espanha, onde lhes são oferecidos outros cuidados de saúde em troca do pagamento de uma quantia que vai desde o valor do salário mínimo. São as mulheres com menos poder económico que são empurradas para o aborto clandestino sem condições, sem cuidados médicos e para o aborto auto-infligido... tornando-se um problema de saúde nacional!
É uma lei que não reconhece as mulheres como cidadãs capazes de decidir sobre a sua própria vida, colocando-as hierarquicamente num patamar valorativo inferior ao embrião.
É uma lei que remete a mulher cidadã para a função de reprodutora e de mãe, não lhe garantido o direito a várias opções de escolha, onde uma será a ter o direito a uma maternidade desejada!
Basta!!
Basta a uma lei punitiva e criminilizadora das mulheres!
Basta de tratar as mulheres como seres menores, incapazes de tomar uma decisão responsável sobre as suas próprias vidas!
Basta de hipocrisias e usar o argumento da vida, quando o valor da vida das mulheres lhes é amputado!
Basta de hipocrisias e usar o argumento da vida, assente numa moral que se considera superior e que joga com este valor consoante os seus fins.
Afinal qual é o valor da vida?
A actual lei considera que quando a gravidez resulta de uma violação ou se o feto é portador de deficiência, que a interrupção da gravidez é possível num quadro de legalidade... não terão estes mesmos fetos (e usando o argumento absoluto da vida) direito à vida? Ou a vida passa a ser um critério de selecção?
Afinal qual é o valor da vida?
Basta de apontar o dedo!
Basta de julgar!
Basta de cegueiras, de negar e de silenciar um problema de saúde pública que é o aborto clandestino!
O SIM! pela despenalização do aborto até às 10 semanas tem como principal objectivo erradicar um problema que é de todas e todos: o aborto clandestino, que está presente na nossa sociedade!
O SIM! pela despenalização do aborto exige a descriminalização das mulheres que decidem interromper uma gravidez, num quadro de segurança e legalidade, em estabelecimentos de saúde devidamente autorizados!
O SIM! pela despenalização do aborto exige a adopção de uma visão integradora da saúde sexual e reprodutiva informada e responsável que permita prevenir futuras gravidezes indesejadas!
O SIM! pela despenalização do aborto exige uma mudança legislativa que implica uma mudança emancipatoria do conceito de cidadania!
O SIM! pela despenalização do aborto, não quer dizer “ser a favor do aborto”, mas sim o respeito pela decisão das mulheres de decidirem interromper uma gravidez até às 10 semanas, quando não se sentirem capazes para assumir uma maternidade que não é desejada.
Cabe-nos a todos e todas, no dia 11 de Fevereiro de 2007, dizer Não! ao aborto clandestino, dizer Não! a uma sociedade punitiva e julgadora, dizendo SIM! à despenalização da interrupção voluntária da gravidez até às 10 semanas, por decisão responsável da mulher!
Eu voto SIM!
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Mas quem somos nós para impôr a nossa forma de viver aos /às outros e outras???!!!! Porque é que nos sentimos superiores/as e julgamos aque...
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.... com tanta coisa a acontecer....... neste belo país plantado à beira mar, que de belo só tem o seu espaço geográfico, retomo o meu diári...
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